No emaranhado das tentativas de definição sobre o que é a globalização — e nesse artigo apenas sugerimos algumas —, é possível identificar, de acordo com David Held e Antony McGrew (2001), duas grandes correntes de interpretação: os globalistas e os céticos.
Os primeiros entendem que a globalização é um processo real e profundamente transformador; os segundos consideram exagerado esse diagnóstico e, por essa razão, afirmam que é bastante mais complicado compreender verdadeiramente as forças que estão modelando a sociedade atual e também as opções políticas que se apresentam no cenário mundial.
Não é difícil reconhecer que essa disjuntiva entre globalistas e céticos expressa um dualismo bastante tosco e se baseia em interpretações contrapostas extraídas de argumentos e opiniões que, em muitos casos, podem ser entendidas como aproximáveis. Essa disjuntiva dá base, portanto, a uma configuração de dois tipos ideais, úteis do ponto de vista analítico e investigativo para indicar áreas de consenso e disputa em torno da questão central, a globalização.
Apesar das suas imensas diferenças — que mencionaremos em seguida —, ambos os lados compartilham algumas avaliações comuns a respeito da realidade atual. Seguindo a Held e a McGrew (2001), podemos destacar pelo menos cinco pontos de convergência:
[1] ambos consideram que, nas últimas décadas, ocorreu um notável crescimento da interconexão econômica dentro das regiões e entre elas, ainda que com conseqüências multilaterais e desiguais em diferentes comunidades;
[2] a competição (política, econômica e global) inter-regional e global desafia as velhas hierarquias e gera novas desigualdades de riqueza, poder, privilégio e conhecimento;
[3] os problemas transnacionais e transfronteiriços, tais como a extensão da produção de alimentos geneticamente modificados, a lavagem de dinheiro e o terrorismo global, têm demandado crescente protagonismo, colocando em questão diversos aspectos do papel, das funções e das instituições tradicionais de prestação de contas dos governos nacionais;
[4] expandiu-se a governança internacional nos âmbitos regional e global — da União Européia à OMC —, o que coloca importantes questões normativas sobre o tipo de ordem mundial que se está construindo e quais são os interesses a que ela serve;
e [5] esses desenvolvimentos exigem novas maneiras de pensar sobre a política, a economia e a mudança cultural; exigem também respostas imaginativas por parte dos políticos e dos gestores sobre as futuras possibilidades e formas de regulação política efetiva e de controle democrático.
Apesar do reconhecimento, por parte dessas duas correntes, de que existe um processo agudo e profundo de mundialização, seria importante, contudo, demarcarmos as diferenças entre globalistas e céticos, pelo menos no que se refere aos elementos centrais da divergência entre ambos.
Para os céticos, o que se entende por globalização não é mais do que um conjunto de processos de internacionalização, isto é, um crescente vínculo entre economias e sociedades nacionais essencialmente distintas, de regionalização e de “triadização”, ou seja, de agrupamentos geográficos e econômicos transfronteiriços que estruturam atualmente os pólos econômicos mundiais hegemonizados por EUA, Europa e Japão. Os céticos chamam a atenção para o fato de que a história da humanidade já vivenciou processos como esses e argumentam também que há um claro descompasso entre o discurso da globalização e um mundo no qual a maior parte da vida cotidiana das pessoas está dominada por circunstâncias nacionais e locais. Por fim, para os céticos, a globalização é uma construção mitológica necessária no sentido de “justificar e legitimar o processo global neoliberal, ou seja, a criação de um mercado livre global e a consolidação do capitalismo anglo-americano nas principais regiões econômicas do mundo” (Held & Mcgrew, 2003).
Disponível em: http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=728
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